«Vós sois o sal da terra,
e se o sal for insípido, com que se há de salgar?
Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens.»Mateus 5, 13
Esta é uma das passagens do Sermão da Montanha. Segue logo após as exortações da Bem-Aventuranças. Como todo o Sermão da Montanha esta afirmativa é de uma profundidade muito grande para o entendimento da mensagem do Cristo encarnado em Jesus. Trata-se da primeira de uma série de afirmações que compõem o Sermão da Montanha. Sendo a primeira assertiva, é de caráter amplo, considerando o homem em conjunto, dando o sentido principal da vida do homem.
Esta comparação é de uma propriedade maravilhosa.
O sal em si não tem qualquer valor, não é alimento , não tem outra serventia que não a de ressaltar o sabor dos alimentos. O sal é indispensável à vida e, no entanto, em excesso é danoso.
A água de dentro dos tecidos vivos movimenta-se pelas diferenças de concentração do sal. O corpo humano retém a água devido ao sal que contém; a célula preserva uma concentração de sal.
O sal é uma substância que por si mesma não tem nenhuma qualidade. Por si mesmo não é um alimento, destrói o paladar .
Colocado na terra, a esteriliza. Em contato prolongado com a pele, a destrói. Não tem cor. Não tem cheiro. Não tem forma. Desaparece nos líquidos.
Por si mesmo, não vale nada! Misturado, vem a ser a alma do mundo!
A vida não existiria sem o sal. A vida não teria forma, os alimentos não teriam sabor. A própria terra necessita certa quantidade de sal para produzir.
O sal é basicamente um tempero!
Desta mesma forma somos nós o "sal da terra"! Um homem é como o sal: precisa misturar-se, interagir com os outros e com o mundo. Toda sua potencialidade só tem valor se for para temperar a vida. Concentrada em si mesmo, é destrutiva.
O homem que vive dentro de si mesmo, com e para os seus pensamentos e o seu raciocínio, vivendo para o seu egoísmo, torna-se um ser que destrói a terra onde pisa. Misturado, interagindo com os outros seres, mesmo em pequenas quantidades, torna-se capaz de executar as grandes obras. Grandes obras que não são ele, o "sal da terra", mas que sem ele não existiriam. Por si só nada vale, mas é quem dá sabor à terra ! Se não for para nos relacionarmos com tudo e com todos, nada valemos!
Devemos viver a vida na terra, nos relacionarmos uns com os outros. Este relacionamento é que faz o sal da terra. De nada adianta sermos o sal se não dermos o tempero à vida? De que serviria a vida se não fosse vivida, de que serviria o sal insosso?
"Vós sois o sal da terra e, se o sal for insípido, com que se há de salgar?" A pergunta fica propositadamente sem resposta. Se não fosse o homem no mundo, o que existiria? Com que se há de salgar?
O mundo existe em relação à nossa consciência. Sem o homem não há existência!
Este relacionamento não pode ser insípido, não pode ser morno: deve ser frio ou quente. Este é o tempero da terra!
Uma grande quantidade de sal torna tudo estéril, como está se vendo nos dias de hoje, quando tanta gente se refestela, vivendo só para si, sem se relacionar com os outros e com o mundo.
O homem por si só não vale nada, seu valor está no seu relacionamento com os outros seres e com o mundo! O homem existe para dar finalidade e beleza ao que existe, para ser o tempero do mundo.
Se não se misturar com os outros e com o mundo, torna-se insosso, deixa de ter valor, deixa de ter sentido, torna-se destrutivo. Da mesma forma que o é uma montanha de sal.
Do pouco que sejamos, se este pouco for misturado às coisas do mundo, faremos com que tudo seja grande, belo e tenha sentido. Da mesma forma que uma pitada de sal torna o alimento saboroso, o pouco que o homem seja é capaz de transformar as coisas do mundo.
O homem não vale nada por si mesmo; na medida em que se julgue importante vai se tornando como um monte de sal. Tem que encontrar seu sentido na vida, e não existir apenas para si mesmo ele é o tempero.
Neste mundo em que vivemos, somos o sal da terra. Cada um de nás em si nada vale, não temos outra serventia que não a de adicionarmos sabor à vida. E se adicionamos em excesso, somos danosos.
Tudo o que existe no mundo não valeria nada, não teria finalidade, não teria sentido se não fosse o "sal da terra".
Vivamos agradecendo a Deus a oportunidade de viver, de nos relacionarmos, de fazermos qualquer coisa que se relacione como todos e com tudo.
O pior de todas os males é a inércia. É o não fazer nada. É dispor dos dons de Deus sem usá-los. É não usar os talentos de que dispomos.
Vamos à luta de cada dia, enfrentemos as dificuldades relacionado-nos com as pessoas, em paz, e gerando harmonia à nossa volta.
É desta maneira que somos o Sal da Terra !
Cada um de nás, em si, não valemos nada, nada mais somos que um monte de um pó. Se, porém, formos usados para temperar a terra, geraremos a vida, a evolução e o crescimento espiritual de todos nós.
Somos o Sal da Terra!
Se formos insípidos, de nada valeremos. Somos o tempero que acrescenta sabor à vida! Nada existe de mais interessante do que esta comparação!
Somo o Sal da Terra!
É lutando que nos tornamos o Sal da Terra. Vivendo, enfim!
"Vós sois o sal da terra, e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens."
Vós sois o sal da terra! Para que se misturem, para que interajam, para que dêem sabor à terra!
Sozinhos, "se fordes insípidos", tornar-vos-ei um ser destrutivo, que não tem cheiro, que não tem forma, que destrói a pele onde toca, e esteriliza a terra onde fica, e desaparecereis nas águas do mundo!
[1] Ver também As Bem-Aventuranças, Mateus 5, 1-12, parte inicial de "O Sermão da Montanha".
Interpretação de José Carlos Fragomeni.
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Atualizado: jul 99.