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Platero
PORTUGUÊS · ESPAÑOL
Platero é pequeno, peludo, suave;
tão macio por fora, que se diria todo de algodão,
que não tem ossos.
Só os espelhos de azeviche dos seus olhos
são duros como dois escaravelhos de cristal negro.
Deixo-o solto e vai para o prado,
e acaricia levemente com o focinho,
apenas a roçá-las, as florezinhas rosas,
celestes e gualdas...
Eu o chamo docemente: "Platero!”,
e vem a mim num trotezinho alegre
que parece que ri,
num certo tilintar estranho...
Come o que lhe dou.
Gosta das laranjas tangerinas,
das uvas moscatéis, todas de âmbar;
dos figos maduros, com sua gotinha cristalina de mel...
É terno e mimoso como um menino, uma menina...;
mas forte e seco por dentro, como de pedra...
Quando passeio nele, aos domingos,
pelos últimas ruelas da vila,
os homens do campo, vestidos limpos e arejados,
o ficam olhando:
— Tem aço...
Tem aço.
Aço e prata da lua, ao mesmo tempo.
Juan Ramón Jiménez, "Platero e
Eu".
Atualizado: nov 2003 |